Feito um picolé no Sol
Nico Nicolaiewsky
Quero um barco meio mar um meio não achei não veio pra sair do charco feio quero um barco meio mar um porto meio lar um corpo feito pra se amar e sem receio meio assim doente de repente cheio desse olhar ausente meio louco meio um sufoco meio coca cola meio mal da bola meio inconseqüente como se no meio da cidade na velocidade na saudade na maldade à toa nessa claridade tanta coisa boa se desmancha feito um picolé no sol e feito um picolé no sol eu quero estar agora pra esquecer do mal que tá lá fora me esperando pra cobrar a taxa tá com a mão toda suja de graxa tô ficando meio assim xarope dessa lenga lenga já amarrei o bode pode crer que tudo tem a ver com tudo tem a ver com o mundo tem a ver com ser perfeito tá na rua tá na banca de revista tô na pista e não te desconcerta sempre alerta na notícia esperta nesse compromisso numa dose certaVeio como onda bomba longa história nua e sem certeza sobre a mesa tua crua e sem semente mente me confunde funde a minha e a tua neste instante ante vejo um pôr do sol brilhante como nunca dantes me arriscar e fui tomar a cara um primeiro passo dum segundo passo dum terceiro passo eu acho no caminho dessa descoberta não tem compromisso com trilhar o que já foi trilhado deixo tudo ali do lado e parto cego e sempre em frente um tanto quanto alucinado e nado para estar presente nada como estar assim ciente sem estar cansado sem estar à margem sem estar doente sem faltar coragem sem querer fazer charminho sem querer carinho sem querer carona quero um barco meio mar um porto meio lar um corpo feito pra se amar crua e sem semente mente me confunde funde a minha e a tua neste instante um primeiro passo dum segundo passo dum terceiro passo
e depois
só nós dois
tudo mais
tanto faz
quero amor
quero luz
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
sábado, 22 de setembro de 2007
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
sábado, 15 de setembro de 2007
domingo, 9 de setembro de 2007

As Metamorfoses do Vampiro
(de Baudelaire)
E no entanto a mulher, com lábios de framboesa,
Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,
E o seio a comprimir sob o aço espartilho,
Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:
-“A boca úmida eu tenho e trago em minha ciência
De no fundo de um leito afogar a consciência.
Sou como, a quem vê sem véus a imagem nua,
As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!
Tão douta na volúpia eu sou, queridos sábios,
Quando um homem sufoco à borda dos meus lábios
Ou quando o seio oferto ao dente que mordisca,
Ingênua ou libertina, apática ou arisca,
Que sobre tais coxins macios e envolventes
Perder-se-iam por mim os anjos impotentes!”
Quando após me sugar dos ossos a medula,
Para ela me voltei já lânguido e sem gula
À procura de um beijo, uma outra eu vi então
Em cujo ventre o pus se unia à podridão!
Os dois olhos fechei em trêmula agonia,
E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,
A meu lado, em lugar do manequim altivo,
No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,
Pendiam do esqueleto uns farrapos poeirentos,
Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventos
Ou de uma tabuleta à ponta de uma lança,
Que nas noites de inverno ao vento se balança.
(de Baudelaire)
E no entanto a mulher, com lábios de framboesa,
Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,
E o seio a comprimir sob o aço espartilho,
Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:
-“A boca úmida eu tenho e trago em minha ciência
De no fundo de um leito afogar a consciência.
Sou como, a quem vê sem véus a imagem nua,
As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!
Tão douta na volúpia eu sou, queridos sábios,
Quando um homem sufoco à borda dos meus lábios
Ou quando o seio oferto ao dente que mordisca,
Ingênua ou libertina, apática ou arisca,
Que sobre tais coxins macios e envolventes
Perder-se-iam por mim os anjos impotentes!”
Quando após me sugar dos ossos a medula,
Para ela me voltei já lânguido e sem gula
À procura de um beijo, uma outra eu vi então
Em cujo ventre o pus se unia à podridão!
Os dois olhos fechei em trêmula agonia,
E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,
A meu lado, em lugar do manequim altivo,
No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,
Pendiam do esqueleto uns farrapos poeirentos,
Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventos
Ou de uma tabuleta à ponta de uma lança,
Que nas noites de inverno ao vento se balança.
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Vivo
Lenine / Carlos Rennó
Precário, provisório, perecível
Falível, transitório, transitivo
Efêmero, fugaz e passageiro:
Eis aqui um vivo
Eis aqui um vivo
Impuro, imperfeito, impermanente
Incerto, incompleto, inconstante
Instavel, variável, defectivo
Eis aqui um vivo
Eis aqui
E apesar
Do tráfico, do tráfego equívoco,
Do tóxico do trânsito nocivo;
Da droga do indigesto digestivo;
Do câncer vir do cerne do ser vivo;
Da mente, o mal do ente coletivo;
Do sangue, o mal do soropositivo;
E apesar dessas e outras,
O vivo afirma, firme e afirmativo:
"O que mais vale a pena é estar vivo"
Não feito, não perfeito, não completo,
Não satisfeito nunca, não contente,
Não acabado, não definitivo:
Eis aqui um vivo
Eis me aqui
Lenine / Carlos Rennó
Precário, provisório, perecível
Falível, transitório, transitivo
Efêmero, fugaz e passageiro:
Eis aqui um vivo
Eis aqui um vivo
Impuro, imperfeito, impermanente
Incerto, incompleto, inconstante
Instavel, variável, defectivo
Eis aqui um vivo
Eis aqui
E apesar
Do tráfico, do tráfego equívoco,
Do tóxico do trânsito nocivo;
Da droga do indigesto digestivo;
Do câncer vir do cerne do ser vivo;
Da mente, o mal do ente coletivo;
Do sangue, o mal do soropositivo;
E apesar dessas e outras,
O vivo afirma, firme e afirmativo:
"O que mais vale a pena é estar vivo"
Não feito, não perfeito, não completo,
Não satisfeito nunca, não contente,
Não acabado, não definitivo:
Eis aqui um vivo
Eis me aqui
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