
Abraça-me
com teus encantos
e
Levo assim, como por acaso,
Meio moleque.
Não combina com meus cabelos brancos.
Sinto o silêncio diferente de ontem,
Consigo contemplar o assovio matinal,
Contrastes de tempos oposto num mesmo.
O arco-íris da minha vida,
Por vezes se perde no horizonte dos devaneios.
Sintonizo o dial, mas a interferência,
Penetra sorrateira.
Preciso da tua bússola guia,
Tem olhar norte,
Teu toque âncora,
Teu abraço bunker,
Teus beijos asas,
Da tua insanidade lúcida.
Essa música nunca foi tão perfeita assim.
A noite acolhe meu pensar,
Chego a te sentir me espiando,
Viro e nada,
Só sentimentos voando,
Fazendo sombras na minha cabeça,
Como um pequeno bote em alto mar,
Em dia de tempestade.
Hálito nicotina dissipar,
sopro manhã acorda penetra.
Noite de excessos despede-se,
deixando suas cicatrizes.
Poucas palavras a dizer.
Quem sabe ainda mais um toque,
um gole de uísque barato,
no limite da pernoite do bolorento motel.
E só restará a marca do teu último olhar,
como recordação e nada mais...
Era dia de semana. Mais uma reunião almoço, burocracia no prato principal. Encontros profissionais que normalmente só encaminham tarefas, resoluções ficam para outro momento menos gastronômico.
Eu não gosto deste tipo de encontro profissional, acho improdutivos e também não se come bem. Para um glutão isso é um favor relevante.
Só que nesse não foi bem assim...
Entre cumprimentos cordiais, pastas, documentos.
Adentra cenário: sorriso cativante, roubando minha concentração. Derrubando argumentos.
Como seria seu nome? Desejei que fosse Glórinha, a mesma que Nelson Rodrigues descreve em “ O Casamento”. Sim, aquela menina verniz casta, porém devassa em segredos.
A minha Glórinha, menina mulher, amante fêmea.
Reparo detalhes, trejeitos. Preciso me fazer notado.
Já nem sei onde foi parar a pauta. Só ouço burburinhos.
Analiso papéis inelegíveis. Tento disfarçar.
Sinto que cada gesto me denuncia.
A reunião termina, sem saber do desfecho. Só me vem à cabeça como descobrir meios de reencontrá-la. Na verdade nem sei o que ela foi fazer, praticamente não disse nada, nem abriu qualquer pasta ou acrescentou algo relevante ao encontro. Só queria saber se ela me notou. Se positivo, não esboçou qualquer sinal. Essa é minha Glórinha ! Discreta, mas devassa na hora certa. Sei, não me digam nada. Deixa essa incógnita me embalar.
Já passou um ano desse encontro e nunca mais tive notícia da minha Glórinha. Só sei que ela ainda perambula nas minhas lembranças.