segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Glórinha

Era dia de semana. Mais uma reunião almoço, burocracia no prato principal. Encontros profissionais que normalmente só encaminham tarefas, resoluções ficam para outro momento menos gastronômico.
Eu não gosto deste tipo de encontro profissional, acho improdutivos e também não se come bem. Para um glutão isso é um favor relevante.
Só que nesse não foi bem assim...
Entre cumprimentos cordiais, pastas, documentos.
Adentra cenário: sorriso cativante, roubando minha concentração. Derrubando argumentos.
Como seria seu nome? Desejei que fosse Glórinha, a mesma que Nelson Rodrigues descreve em “ O Casamento”. Sim, aquela menina verniz casta, porém devassa em segredos.
A minha Glórinha, menina mulher, amante fêmea.
Reparo detalhes, trejeitos. Preciso me fazer notado.
Já nem sei onde foi parar a pauta. Só ouço burburinhos.
Analiso papéis inelegíveis. Tento disfarçar.
Sinto que cada gesto me denuncia.
A reunião termina, sem saber do desfecho. Só me vem à cabeça como descobrir meios de reencontrá-la. Na verdade nem sei o que ela foi fazer, praticamente não disse nada, nem abriu qualquer pasta ou acrescentou algo relevante ao encontro. Só queria saber se ela me notou. Se positivo, não esboçou qualquer sinal. Essa é minha Glórinha ! Discreta, mas devassa na hora certa. Sei, não me digam nada. Deixa essa incógnita me embalar.
Já passou um ano desse encontro e nunca mais tive notícia da minha Glórinha. Só sei que ela ainda perambula nas minhas lembranças.

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